Empréstimo mais barato e moeda própria estão entre vantagens das novas instituições
Seu Bezerra é proprietário de um pequeno mercado e de uma escola de informática na comunidade dos Palmeiras, em Fortaleza (CE). Para montar os dois negócios, tomou empréstimos no Palmas, o banco comunitário da localidade, a juros bem mais baixos do que o das grandes instituições. A exemplo de Seu Bezerra, cerca de dois milhões de brasileiros foram beneficiados com crédito dos 51 bancos comunitários desde 1998, quando foi fundado o Palmas, o pioneiro no Brasil. No entanto, o número poderia ser bem maior se essas instituições tivessem mais apoio e recursos para atender à demanda de mais famílias.
“Na última semana, duas irmãs costureiras pediram crédito para comprar máquinas para trabalhar, mas não tínhamos recursos”, conta Edmilson do Nascimento, caixa do Banco União Sampaio, de São Paulo. O União Sampaio é um projeto da União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências e, com um ano de vida, enfrenta o desafio de conseguir aumentar sua verba para a concessão de crédito.
São necessários de dois a quatro anos para que um banco comunitário seja autossuficiente, segundo Joaquim Melo, fundador do Palmas, o mais bem sucedido banco comunitário brasileiro. As principais dificuldades do União Sampaio são a obtenção de verba para crédito, a falta de educação financeira da população e a adesão de comerciantes locais. A primeira é o maior empecilho, segundo Nascimento. “Teríamos R$ 10 mil do Banco do Brasil, mas a ajuda viria por meio do Banco Popular, que deixou de existir”, conta o funcionário do banco.
Em um ano, o União Sampaio concedeu R$ 4 mil em créditos produtivos – que são os empréstimos mais altos, para investimento em negócios – a oito pessoas. “É uma média de R$ 500, pois não temos muito dinheiro. Para aumentar nosso atendimento, não estamos liberando empréstimos muito grandes”, afirma Rafael Mesquita, coordenador da instituição financeira. Entre os clientes, estão uma revendedora de Yakult, uma fabricante de cortinas artesanais, uma revendedora de lingerie e um vendedor de caldo de cana.
Além do crédito produtivo, também são concedidos os chamados “créditos de consumo”, no formato de moeda, chamada nesse caso de “sampaio”. A ideia é promover a circulação das riquezas dentro da própria comunidade, uma vez que a moeda só é aceita localmente. Assim, quando obtém 20 sampaios, por exemplo, um morador consegue gastá-los apenas na sua comunidade. Se compra carnes no açougue, então o açougueiro poderá usar a moeda para adquirir outro produto também em um estabelecimento da comunidade, que aceite os sampaios. Em um ano, o banco concedeu 5.841 sampaios, o equivalente a R$ 5.841. No total, o União Sampaio possui R$ 2 mil lastreados.
Apesar de trabalharem para conscientizar a população sobre a importância de os funcionários comentam que muitos não têm condições de honrar as dívidas. Nascimento explica que uma pessoa só pode pegar um empréstimo se o tomador de crédito anterior tiver pagado, pois o número de moedas lastreadas é limitado. “Por um lado, as pessoas entendem que o banco não gera lucro e que a ideia é de que as pessoas consigam movimentar a economia local e desenvolver a comunidade. Ainda assim, algumas ligam pedindo desculpas por não conseguirem pagar. Na periferia, muitos têm grandes dificuldades reais”, conta Nascimento.
Banco comunitário é ideia nova
O União Sampaio é um dos cinco bancos comunitários do Estado de São Paulo, todos recentes, com menos de quatro anos de existência. No Piauí, o Banco dos Cocais, também novo, já é considerado um dos mais sustentáveis. O apoio do municipal – de São João do Arraial – foi fundamental para o desenvolvimento da instituição. “A Prefeitura no início dava o local e colocava um funcionário à disposição do banco. No início, o apoio foi para tudo: aluguel, luz, funcionários. Hoje conseguimos manter dois funcionários, apenas o terceiro é subsidiado”, conta Mauro Rodrigues da Silva, fundador do banco.
“Começamos cedendo créditos para grupos de economia solidária, que trabalham com artesanato, cultura e produzem biscoito, por exemplo.” Hoje o Banco dos Cocais soma R$ 8 mil em créditos concedidos, a moeda social local é aceita em 90% dos estabelecimentos comerciais e a inadimplência é baixa. “Como a cidade é pequena e todo mundo se conhece, as pessoas pagam. Até porque querem poder tomar crédito outras vezes. Às vezes, ficam dois meses sem pagar, mas depois quitam a dívida”, afirma Silva. Mesmo lá, ainda falta apoio e verba para o crescimento. “Qualquer forma de apoio será bem-vinda, seja na forma financeira ou em treinamento e capacitação”, afirma.
No Pará, a AEBA apoiou a criação do Banco Comunitário Tupinambá, o único da Região Norte, localizado na Baia do Sol, na cidade de Mosqueiro.
No Pará, a AEBA apoiou a criação do Banco Comunitário Tupinambá, o único da Região Norte, localizado na Baia do Sol, na cidade de Mosqueiro.
O Banco Tupinambá hoje conta com mais de 200 correntistas e realiza pagamentos para aposentados e pensionistas. O Banco também conta com o apoio do Banco do Brasil (Banco Popular) e do SEBRAE.
Recentemente o gerente do Banco Comunitário Tupinambá, Marivaldo do Vale, proferiu uma palestra intitulada “Bancos Comunitários, Moeda Social e a Nossa Experiência”, durante a Feira dos Empreendedores do SEBRAE, que aconteceu no Hangar Centro de Convenções da Amazônia. O convite para a participação na feira surgiu exatamente a partir da parceria entre o Banco Comunitário e o SEBRAE, para a realização de cursos e palestras com enfoque no pioneirismo do Banco Comunitário Tupinambá como 1º Banco Comunitário da Região Norte.