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Entenda as diferenças entre a crise global atual e a de 2008

Maria Carolina Abe

Do UOL Economia, em São Paulo

A economia mundial mal se levantou da queda em 2008 e já começa a cambalear. A crise que se avista agora no horizonte é a mesma que a anterior, é um reflexo dela ou é totalmente nova? Afinal, quais são as semelhanças e diferenças entre a crise de 2008 e a de 2011?

Analistas concordam que as duas crises certamente não são isoladas. A crise global do momento é uma continuação –até mesmo um "efeito colateral"– da crise de 2008.

Mas elas têm, sim, diferenças fundamentais.

A grande diferença é que, há três anos, o centro da crise eram os bancos americanos e europeus, ou seja, o setor privado. Desta vez, no entanto, o fantasma ronda os governos.

Na verdade, como definiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o "abacaxi" da economia passou do colo dos bancos para o dos Estados. Os governos, que ajudaram os bancos em 2008, acabaram "comprando" o problema para si.

Em 2008, a crise do "subprime"

Desde o início dos anos 2000, o governo norte-americano reduziu as taxas de juros, gerando uma oferta elevada de crédito, afirma Ricardo Humberto Rocha, professor de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Os bancos emprestaram muito mais dinheiro do que tinham em caixa –eles estavam "alavancados" em mais de 20 vezes em seus valores– sem se preocupar com uma situação futura pouco favorável, diz Daniel Miraglia, consultor da eyesonfuture e professor da Business School São Paulo (BSP).

E mais: os bancos tinham muitos papéis e empréstimos no setor imobiliário. Houve um exagero no endividamento dos cidadãos norte-americanos, que não tinham como pagar suas dívidas.

Isso desembocou na chamada "crise do subprime", em 2008. Faltou crédito, o consumo caiu, e o desempenho das empresas foi duramente afetado.

Para salvar os bancos, governos se endividaram

Para evitar que esses bancos quebrassem e houvesse um possível dano maior à economia mundial, os governos realizaram uma operação de resgate, injetando recursos públicos nas instituições bancárias.

"O sistema financeiro dos EUA foi praticamente estatizado, e o governo tornou-se sócio das instituições", diz Rocha.

O dinheiro público usado para salvar os bancos foi o principal motivo do alto endividamento atual dos governos. "Nos EUA, a dívida pública subiu cerca de 20% em relação ao PIB (Produto Interno Bruto)", diz Miraglia.

Com a "operação salva-vidas" dos bancos, os governos apostavam que a economia de seus Estados voltaria a se recuperar.

Porém, a economia não cresceu na velocidade que se esperava. Com isso, o "remédio" do salvamento dos bancos surtiu apenas seu efeito colateral, mas não resolveu o problema em si.

Situação agora é "menos ruim" e não falta crédito

Agora, o setor privado está "numa boa", as empresas têm dinheiro em caixa, e vão bem, obrigado. O cenário de grandes quedas de PIB e recessão não é tão provável como em 2008, na opinião de Daniel Miraglia.

Não há falta de crédito, nem de liquidez.

"Em 2008, o sistema interbancário parou, os bancos não emprestavam dinheiro um para o outro, e até o sistema de linha de crédito para exportações foi paralisado. Parou o crédito no mundo", conta.

Por enquanto, os bancos seguem com dinheiro em caixa e continuam emprestando, mas… "Se os empréstimos interbancários pararem, aí começa a ficar muito parecido com 2008."

Por outro lado, ressalva o consultor, agora os Estados já estão com os juros bastante baixos e os governos não contam com essa opção –de baixar os juros– para ajudar a economia.

Diferença entre a crise da dívida nos EUA e na Europa: a moeda

A crise que agora ronda EUA e Europa tem uma diferença essencial entre as duas regiões: a moeda na qual um país tem sua dívida.

"Pela teoria econômica, um país que tem dívida em sua própria moeda, tem risco de moratória muito baixo", explica Miraglia. Isso porque o país pode decidir emitir mais moeda para pagar sua dívida, ainda que isso eleve um pouco sua inflação.

Nesse caso, os Estados Unidos levam grande vantagem em relação à Europa. Nos EUA, 100% da dívida pública é em dólar, e o próprio país é responsável pela emissão da moeda. Já na Europa, os países fazem suas dívidas em euro, e a moeda é emitida pelo Banco Central Europeu.

Além disso, na Europa cada país tem uma estrutura de dívida diferente, mas eles não têm o poder de emitir dinheiro.

"A Grécia tem muito mais dívida em porcentagem do PIB do que a a Alemanha. Logo, a Grécia precisa de uma política fiscal diferente da Alemanha", explica o economista.

Porém, com uma mesma moeda e a mesma taxa de juros, não dá para se fazer duas políticas diferentes.

Mais diferenças entre EUA e Europa

Uma solução sempre cogitada em períodos de crise é inflacionar o país para diminuir a dívida nominal em proporção do PIB, segundo a consultoria MB Associados. Entretanto, essa tática feita nas décadas de 1940 e 1950 no pós-guerra ocorre como consequência de um período prolongado de crescimento.

"Naquela época, os EUA eram o celeiro industrial do mundo e o crescimento junto com inflação permitiu que a dívida rapidamente diminuísse. Agora, não há esse horizonte para a economia americana", segundo relatório da consultoria.

No caso europeu, a situação é ainda mais preocupante talvez porque a ideia de uma solução da crise hoje passa também por um ajuste fiscal prolongado. Mas o peso do setor público na Europa é muito maior e poderá significar uma desmantelamento de longo prazo do Estado do bem-estar social.

"Não nos parece uma transição simples nem fácil de fazer", informa o relatório.

Europa descartou criação de bônus em comum na zona do euro

Os investidores tinham expectativas de que fossem criados bônus em comum da zona do euro, uma iniciativa que tornaria o custo da dívida dos países mais fracos mais administrável. Mas a possibilidade foi descartada pelos líderes da Alemanha, Angela Merkel, e da França, Nicolas Sarkozy, em reunião em meados de agosto.

Por outro lados, os dois líderes defenderam a criação de uma taxa sobre aplicações financeiras e um imposto comum sobre empresas na zona do euro.

Além disso, propuseram uma maior integração da região e rigor nos gastos públicos como fórmula para recuperar a confiança dos mercados diante da crise financeira atual.

(Com informações da Reuters)

Fonte: http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2011/09/15/entenda-as-diferencas-entre-a-crise-atual-e-a-de-2008.jhtm

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