O governo Dilma tem um novo alvo na área econômica: o spread bancário. O do Brasil é o segundo maior do mundo! Só perdemos para Madagascar!
Spread, em “economês”, quer dizer a diferença entre os juros pagos pelos bancos para captar dinheiro no mercado e os juros que eles cobram dos clientes ou consumidores na hora de conceder crédito. Essa diferença, em média, está hoje em cerca de 29% ao ano, ou seja, o bancos cobram 29% ao ano a mais do que pagam na captação de recursos, que gira ao redor de 9,5% ao ano.
Essa discussão é antiga, vem desde o governo Fernando Henrique, principalmente a partir do segundo mandato de FHC. Os setores público e privado discutem sobre o elevadíssimo spread bancário no Brasil. Discutem, discutem, mas não conseguem avançar em uma solução que, efetivamente, diminua essa abrupta diferença.
Há 12 anos, o spread era, em média, de 30%. Em fevereiro de 1999, quando assumiu o Banco Central, Armínio Fraga jogou os juros para incríveis 45% ao ano para conter as erosões na economia brasileira. Hoje, temos juros de 9,75% ao ano — e caminhamos para os 9%, segundo desejo declarado do BC.
Como explicar que, com a taxa básica de juros muito alta ou muito baixa, o spread praticamente não se mexe? Afinal, estamos hoje num momento completamente diferente da nossa economia, com mais estabilidade e fundamentos mais sólidos.
Esse fator é “inexplicável” também para a presidente Dilma Rousseff, segundo ela mesma declarou esta semana. Ao conseguir diminuir a temperatura das cobranças sobre a política econômica de seu governo, a presidente agora encaminha o foco das discussões para um tema que envolva atitudes do setor privado também, não só do governo.
Não é bem assim que entendem os banqueiros privados. A proposta da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apresentada em Brasília, nesta terça-feira (10), devolve o problema para o governo: cortem os compulsórios e os impostos e cortaremos o spread, dizem os representantes dos bancos.
A justificativa dos bancos tem alguma legitimidade. O próprio BC reconhece que 70% do valor do spread é de custos das operações. O que forma a taxa do spread é uma somatória de itens: lucro dos bancos, taxa de inadimplência, custos administrativos, depósitos compulsórios e os tributos — que são o principal custo.
Aqui chegamos a uma outra anomalia, ou distorção, da economia brasileira: o compulsório bancário. Funciona assim: os bancos são obrigados a mandar para o BC uma boa parte do dinheiro depositado à vista e à prazo em seus sistemas. Essa é uma medida de política monetária que, no Brasil, continua sendo intensamente usada. Ao obrigar os bancos a guardar os recursos no cofre do governo, o BC tira dinheiro de circulação e controla a inflação.
“Ninguém tem compulsório no nível no Brasil. Ele está altíssimo e não faz sentido. Nenhum país usa mais isso como política monetária. O problema é que ele já virou uma armadilha para o BC. Como reduzi-lo bruscamente de uma hora para outra?”, avalia o economista Roberto Troster.
Para ele, é a dinâmica do sistema bancário que leva o spread para as alturas.
“Para começar, os bancos são obrigados a precificar todo mundo com o mesmo risco. Outra coisa é a elasticidade cruzada dos bancos, que quer dizer a mudança de correntistas entre as instituições. Apenas 0,5% dos clientes muda de banco por ano. Sem falar na estrutura de custos e na falta de transparência das informações tanto dos bancos quanto do BC”, aponta Troster.
O cabo de guerra do spread entre os bancos e o governo não deve se desfazer tão cedo. O ideal seria que a corda não se rompesse, com o risco de manter o consumidor como o prejudicado, sem que ele tenha puxado o cabo para algum dos lados. Enquanto nada se define, a discussão pública do tema pode manter o problema em voga por mais tempo. Será suficiente? Até hoje, nas idas e vindas do spread nas manchetes dos jornais, não foi.
Fonte: http://g1.globo.com/platb/thaisheredia/