Banco da Amazônia

ARTIGO: Banco da Amazônia: Fundamento Histórico e Prática Presente

Antonio XimenesBarros*

O Banco da Amazônia teve origem na segunda fase áurea da borracha da Amazônia Brasileira patrocinada pela barreira provocada pelos países do eixo “Alemanha, Itália e Japão” impossibilitando os países aliados de comprarem borracha produzida no sudoeste asiático liderado pela Malásia, para fabricação de pneus para veículos de guerra, daí a pergunta: a Malásia também era grande produtora de borracha? Resposta sim, ‘um “pirata” inglês traficou alguns milhares de sementes da nossa seringueira no final do século XIX e a adaptou muito bem por aquelas bandas’, por isso começa em 1912 a primeira grande crise da borracha da Amazônia e exatamente em 2012 estamos completando o 1º Centenário da crise da borracha na Amazônia.

Com a interrupção da rota comercial para a Ásia, e a necessidade de borracha, o governo brasileiro ea empresa americana Rubber Reserve Company, em3 de março de 1942,celebraram um convênio em Washington e em 9 de julho do mesmo ano, através do Decreto nº. 4.451 foi criado o Banco de Crédito da Borracha S/A. com a seguinte composição de Capital 40% pertencente Rubber Reserve Company, 55% à União e 5% distribuídos em ações e estas vendidas ao público em geral. A partir deste ato inaugura-se uma nova fase áurea da borracha.

Entretanto, esta história “glamourosa” não foi só de gloria, porque, em que pese a criação do banco ter trazido às elites amazônicas formadas por comerciantes e seringalistas pujança econômica e luxo, na outra ponta trouxe degradação e miséria, e por isso não convém às elites, ser contada. Os atores da parte trágica só são apresentados por alguns humanistas comprometidos como Ribeiro (UFPA, 2006) “Tangido pela seca e pela miséria na sua região de origem, o trabalhador era transportado em condições subumanas até o seringal, onde era submetido ao duro regime de “escravidão por dívidas”.

A penúria e as doenças que grassavam na Região, sobretudo a malária, a febre amarela, o tifo e as verminoses, completavam o que faltava para de vez esmagar o, ironicamente, chamado “soldado da borrracha”. Não se sabequantos morreram. Estima-se em cerca de 40 mil, isto é, uma quantidade quase 100 vezes maior do que o número de soldados brasileiros que morreram nos campos de batalha da Itália, cujo total foi de 454 baixas, em um contingente de 25.223 expedicionários”.

Depois de contada a história, não nos surpreende a reedição do “glamour” que o Banco da Amazônia reedita no seu 70º aniversário, patrocinando para as elites locais e quiçá, de outros estados, lauta festa que as remete aos áureos tempos, em um monumento como o Teatro da Paz que é um ícone daquela época.

Hoje, 70 anos depois em que a relação capital/trabalho passou por melhorias significativas até na China, o Banco da Amazônia ainda mantém “status” de precariedade para os seus empregados: é o menor salário de contratação do sistema, falência do sistema de previdência complementar para uns e a absoluta negligência desse direito para outros, manutenção de ambientes de trabalho insalubres, ausência de um plano de cargos e salários que oriente a isonomia e o encarreramento para os empregados, imposição de acordo de trabalho sem fornecimento dos meios de trabalho adequados ao atingimento das metas exigidas. O rosário é maior, mas, vou parar por aqui.

Por isso, também não surpreende o fato de o Banco da Amazônia excluir a grande maioria dos seus empregados da sua festa de aniversário, porque se a incluísse, seria cair em contradição com seu próprio fundamento histórico.

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* É Economista e Presidente do CORECON-PA / 9ª Região, Analista de Projetos de Fomento do Banco da Amazônia S/A e Instrutor em Elaboração e Análise de Projetos Para Bancos de Fomento.

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