Nos 12 meses encerrados em junho, carteira de empréstimos teve alta de 28,5% na média de BB e Caixa; nos privados, avanço foi de 13,2%
Os balanços do 1.º semestre dos grandes bancos de varejo deixam evidente a divergência entre as instituições públicas e privadas em relação ao crédito. O primeiro grupo – Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal – expandiu os empréstimos em 28,5% nos 12 meses encerrados em junho. No segundo grupo – Itaú, Bradesco e Santander -, o ritmo foi mais de duas vezes menor: 13,2%.
O cenário atual repete o que houve entre 2008 e 2009, quando os bancos públicos, em meio ao agravamento da crise, abriram as torneiras do crédito. Os privados se retraíram. Na ocasião, o mercado financeiro, por meio da alta das ações do BB, reconheceu que a estratégia dos públicos foi mais adequada. Só que hoje a conjuntura é distinta.
A crise se mantém como pano de fundo para o setor, mas, diferentemente de 2008 e 2009, não há um travamento do crédito global. O que existe é uma desaceleração da economia nacional, que levou a expressivo aumento da inadimplência.
Por isso, a maioria dos analistas e muitos investidores têm se mostrado preocupados com a estratégia dos públicos. Em seu dia a dia, a Caixa não sente esse ceticismo porque pertence 100% ao Tesouro Nacional. Mas as ações do BB acumulam perdas de 1,2% nos últimos 12 meses, ao passo que os papéis do Itaú Unibanco (PN) sobem 25% e os do Bradesco (PN), 30,2% no período.
"Assim como em 2008 e 2009, só o tempo dirá quem tem razão", disse o analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu. "Mas é inegável que os bancos públicos estão assumindo riscos demais." Ontem, durante apresentação dos resultados do segundo trimestre, o presidente do BB, Aldemir Bendine, defendeu a estratégia da instituição.
"A dinâmica daqui para a frente vai se caracterizar por um desembolso maior do crédito. Temos de compensar a queda dos juros e dos spreads com um volume maior de empréstimos para conseguirmos manter os níveis de rentabilidade", explicou. Spread é a diferença entre as taxas de juros que os bancos pagam na captação do dinheiro e as que cobram nos empréstimos.
O analista de bancos da Rio Bravo Investimentos, Jorge Saab, faz uma ressalva ao argumento de Bendine. "O aumento dos volumes de empréstimo não significa necessariamente que a rentabilidade será mantida ou melhorará", disse. "Para emprestar mais, os bancos precisam aumentar o patrimônio. No fim das contas, se há um aumento do numerador e do denominador, a rentabilidade fica estável."
Santacreu acrescenta que a estratégia do BB não difere muito da dos bancos privados – aumentar os volumes em ambiente de juros e spreads menores. "O problema é que há mais uma variável na conta que o BB não está considerando: a inadimplência", observou. "É justamente por causa desse terceiro ponto do tripé que os privados têm sido mais cautelosos."
O analista de bancos da agência de classificação de risco Standard & Poor"s Ricardo Brito faz um contraponto aos colegas. "Do ponto de vista de quem avalia o risco de um banco não honrar os passivos, acreditamos que tanto o BB quanto os privados têm uma medida de risco adequada", afirmou. "Ser mais ou menos agressivo (no crédito) é questão estratégica de cada um, que depende do momento."
Para Brito, o fundamental é que as reservas e provisões futuras para se precaver contra inadimplência sejam feitas de acordo com as necessidades.
Fonte: O Estado de S. Paulo