Por Carolina Mandl | De São Paulo
Três temas estão na mesa das conversas entre o governo e os bancos neste momento. Cartão de crédito, cheque especial e portabilidade de operações de clientes entre bancos são os assuntos que têm pautado a cruzada que a presidente Dilma Rousseff iniciou em maio pela redução dos custos financeiros para os consumidores, segundo apurou o Valor.
É por isso que a chegada da notícia, no fim de setembro, de que o Ministério da Fazenda pressionava o Banco do Brasil para reduzir o preço de suas tarifas foi recebida com surpresa pelos bancos. É um tema que não faz parte da pauta de negociações – ou, pelo menos, não fazia até o fim da semana passada.
Apesar de a queda no custo dos empréstimos já estar acontecendo (ler reportagem na página C14), as discussões com os bancos ainda parecem estar longe do fim. Nesta fase atual das conversas, as instituições estão com a missão de entregar ao governo todas as informações "possíveis e imagináveis" sobre o parcelado sem juros via cartão de crédito.
Do lado dos bancos, há um consenso: sem limitar – ou eliminar – o parcelado sem juros não há como as taxas do cartão de crédito caírem substancialmente. Ou seja, o fim do financiamento a custo zero via cartão é uma questão de tempo.
Mas como fazer isso? Em qual velocidade? São os lojistas ou os consumidores que vão passar a arcar com juros para o parcelado daqui para a frente? São perguntas que ainda estão sem resposta.
O ponto aqui é desvendar qual impacto teria o fim repentino do parcelado sem juros para os rumos do crescimento do país, por isso os bancos estão com a missão de levantar dados detalhados desse tipo de financiamento. "Para a economia continuar a rodar como está, o brasileiro precisa do financiamento. O dinheiro não vai esticar de repente", diz um banqueiro que participa das negociações.
Nenhuma das pontas quer se arriscar a ficar com a responsabilidade de estagnar a economia. É por esse motivo que bancos e governo vão tentar construir uma saída conjunta. A solução pode ser uma morte lenta – e organizada – do parcelado sem juros, com uma redução gradual ao longo do tempo do número de vezes que o consumidor pode financiar suas compras. Taxas maiores para o lojista que quiser oferecer o produto também estão sendo estudadas como uma saída inicial.
Não menos complexo, o cheque especial é outro tópico que passa pelas rodadas de negociações com o governo. A tarefa, porém, de encontrar uma fórmula para reduzir os juros do cheque – limites sem garantia dados aos correntistas – está com cada instituição.
"Esse assunto já está endereçado dentro dos bancos. Ninguém pode combinar preço. Em breve, haverá novidades", diz um executivo que acompanha as tratativas com o governo. Por enquanto, só os bancos públicos, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, fizeram cortes significativos nessa linha.
Com cortes mais agressivos do que os bancos privados nas taxas de juros em diversas operações, as instituições públicas têm conseguido angariar clientes dos concorrentes por meio da portabilidade das operações.
O mecanismo, porém, ainda não funciona com rapidez e simplicidade. Por isso agora estão sendo estudadas formas que tornem, por exemplo, a portabilidade de operações de crédito mais fáceis.
A partir do aprimoramento dessa ferramenta, o governo espera que as trocas de uma dívida cara por outra mais barata se tornem mais frequentes. Isso estimularia a concorrência entre os bancos, o que, no fim, pode forçar a queda das taxas.
FONTE: http://www.contec.org.br/contec-online/176-outubro-2012/7425-inf121722–bancos-cortarao-juros-do-cheque