A expectativa de uma política monetária mais acomodatícia em 2013 e a preocupação com o impacto da alta do preços das commodities levaram a um aumento da projeção de inflação refletida nos títulos públicos indexados ao Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Depois de ter recuado um pouco após a significativa alta em setembro, a expectativa para a inflação refletida nesses papéis voltou a subir na quarta-feira, no dia do anúncio da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu a taxa Selic para 7,25% ao ano. Embora o potencial de ganho daqui para frente com a chamada "inflação implícita" seja menor, os gestores acreditam que a inflação deve continuar em alta.
A estratégia para ganhar com inflação implícita se dá, normalmente, pela arbitragem entre o rendimento oferecido pelas Notas do Tesouro Nacional – série B (NTN-B) e os juros prefixados de prazo equivalente, e consiste na compra do título público atrelado à inflação e a compra de um contrato DI de prazo mais próximo.
O investidor ganha quando a diferença entre as taxas das NTNs-B e as prefixadas, que refletem a expectativa de inflação, aumenta.
Os gestores que apostaram na alta das projeções de inflação no fim de agosto tiveram ganho de lá para cá. A inflação implícita para 2013 refletida nas NTNs-B, que estava em 5,30% no fim de agosto, subiu para 5,70%, segundo cálculo do BNP Paribas, enquanto a projeção dos analistas no último boletim Focus era de 5,51%.
Na quarta-feira, no dia da decisão do Copom, a inflação implícita nos títulos com prazos mais curtos, até 2015, subiu entre cinco e oito pontos-base.
A gestora SulAmérica Investimentos estava com posição em inflação implícita nos fundos de renda fixa desde agosto e ganhou com a alta. "Acredito que o corte de 0,25 ponto percentual da taxa Selic já está refletido nas taxas de juros, estamos discutindo agora se faz sentido reduzir essa posição dado que o prêmio daqui para frente será menor", diz Marcelo Mello, vice-presidente da instituição.
A esticada da inflação implícita em setembro, que chegou a 5,98% considerando-se a projeção para um ano, foi impulsionada pela preocupação do mercado com a alta do preços dos alimentos, que impactou a variação do IPCA. Em setembro, o índice registrou avanço de 0,57%, taxa mais alta desde abril, e acumulava 3,77% no ano.
A BNP Paribas Asset Management ampliou a aposta em inflação implícita no fim de agosto, mas vem reduzindo a posição desde a última semana. "Vemos um potencial de ganho menor daqui para frente", diz Humberto Vignatti, gestor de renda fixa da casa.
O gestor da BNP ainda vê a possibilidade de alta da inflação nos próximos meses, dado que o repasse da desvalorização cambial para os preços no varejo costuma ter um atraso de 6 a 12 meses. O dólar neste ano saiu de um patamar de R$ 1,70 em fevereiro para R$ 2,03.
Os riscos de maior pressão inflacionária aumentaram no mundo depois que os bancos centrais dos Estados Unidos, da Europa e do Japão anunciaram novas rodadas de estímulo monetário. A injeção de liquidez deve continuar pressionando o preço das commodities para cima, com o aumento das apostas dos investidores no segmento diante das baixas taxas de juros nessas economias. "A alta das commodities agrícolas pode continuar afetando a inflação por um período de um ano", diz Ronaldo Patah, superintendente de renda fixa do Itaú Unibanco.
A gestora do Itaú mantém posições em inflação implícita desde agosto. "Não acreditamos que a inflação implícita para 2013 passe de 6% e nem que venha abaixo de 5,20%. Por isso, toda vez que ela estiver abaixo de 5,5% é um momento de compra", diz Patah.
Para Patah, os efeitos dos incentivos fiscais adotados neste ano pelo governo brasileiro podem trazer maior pressão inflacionária.
A gestora do Itaú trabalha com uma taxa Selic estável em 7,25% para o ano que vem, com o Banco Central lançando mão de medidas macroprudenciais para manter a taxa básica de juros por um período mais prolongado. "Temos alternado a posição em NTNs-B com prazo mais longo (acima de cinco anos) e as apostas em inflação implícita", afirma Patah.
Para o superintendente de gestão de renda fixa da Western Asset, Guilherme Abbud, as taxas das NTNs-B já estão muito baixas. O título com vencimento em 2013 está pagando um retorno de 0,76% mais a variação da inflação.
Nesse cenário, a Western vê oportunidade nos títulos prefixados, como as Letras Financeiras do Tesouro (LTN), com prazos mais longos. O papel com vencimento em 2016, o mais longo disponível no Tesouro Direto, estava pagando uma taxa de 8,61%. "O BC não vai querer subir a taxa de juros no curto prazo e os prefixados devem render mais que o CDI e que as NTNs-B", acredita Abbud.
Fonte: Valor Econômico
Fonte: http://www.contec.org.br/contec-online/176-outubro-2012/7423-inf121720-gestores-ganham-com-aposta-na-alta-da-inflacao