Levantamento foi feito pelo Banco Central e divulgado nesta quarta-feira.
Fatos inesperados, como perda de emprego, levam ao endividamento.
Pesquisa divulgada nesta quarta-feira (19) pelo Banco Central com clientes bancários mostra que, para os consumidores, as linhas de crédito são extremamente úteis e benéficas quando usadas de forma consciente. Ao mesmo tempo, porém, diversos entrevistados afirmaram que as linhas de crédito escondem "armadilhas" que muitas vezes acarretam em endividamento excessivo, "com impactos financeiros e emocionais significativos", acrescentou a instituição.
O levantamento foi feito Banco Central, por meio da empresa Statsol Soluções Estatísticas e Pesquisa de Mercado S/S, entre os meses de agosto e outubro de 2014. Os dados foram coletados por meio de pesquisa qualitativa com oito grupos de discussão, realizados em quatro capitais brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre. Os participantes dos grupos de discussão eram homens e mulheres com idades entre 20 e 80 anos de idade. A quantidade de entrevistados por grupo variou entre oito e 10.
Segundo a pesquisa, algumas das “armadilhas” do crédito citadas pelos entrevistados foram: excesso de linhas, com oferta ostensiva; falta de informações claras sobre as condições da operação, com ênfase nas facilidades e benefícios, sem mencionar os riscos; concessão ou aumento de limites acima da capacidade de pagamento sem solicitação e pagamento do valor mínimo da fatura.
"Adicionalmente, diversos entrevistados consideram que os juros excessivos e a inflexibilidade dos credores para renegociação das dívidas dificultam a saída da situação de acúmulo de dívidas (“bola de neve”) e da situação de inadimplência", informou o BC, tendo por base o levantamento realizados com os clientes bancários.
Motivações para o endividamento
Segundo o Banco Central, a pesquisa também identificou diversas motivações para o início da situação de endividamento excessivo. As mais citadas foram: Fatos inesperados, como a perda de emprego e renda, além de doença própria ou de familiares, morte do responsável pela maior parte da renda familiar, gravidez não programada, separação conjugal. Em segundo lugar, os pesquisados apontaram a falta de planejamento financeiro, com compras por impulso, excesso de parcelamento de compras e uso de linhas de crédito de forma impulsiva e descontrolada. O "empréstimo do nome" para operações de crédito também foi citado pelos entrevistados.
Para grande parte dos entrevistados, informou o BC, o reconhecimento do problema de endividamento excessivo ocorreu somente quando as cobranças foram iniciadas ou quando perceberam que não tinham dinheiro para honrar os compromissos assumidos e as contas mensais.
"Parte dos entrevistados considera que as experiências de endividamento, apesar de negativas, resultaram em um aprendizado para o uso de linhas de crédito, uma forma de reaprender a lidar com o dinheiro. Após a experiência, foram mencionadas práticas de organização financeira, como elaboração de planilhas de receitas e despesas; tentativa de poupança; planejamento das aquisições de maior valor e controle dos gastos feitos no cartão de crédito", acrescentou a autoridade monetária.
Solução do problema
Ainda segundo o levantamento, ao tomar consciência da situação de descontrole das dívidas, diversos entrevistados procuraram orientação de amigos e familiares e tentaram negociação com os credores para solucionar o problema.
"Porém, de acordo com parte dos entrevistados, os credores, na maioria das vezes, só oferecem condições de negociação adequadas e viáveis quando as dívidas estão perto do prazo de prescrição. Na impossibilidade de negociar com os credores nas condições impostas, diversos entrevistados declararam que desistem de pagar suas dívidas, aguardando a sua prescrição, ou que o credor apresente propostas mais viáveis", informou o BC, com base na pesquisa.
Baseados em suas experiências, os participantes indicaram os seguintes caminhos para evitar e para sair da situação de endividamento excessivo: controlar o orçamento por meio de planilha financeira; manter no máximo um cartão de crédito, cancelando os demais; economizar, poupar dinheiro e ter reserva financeira; não aceitar muitas linhas de crédito nem limites elevados; aceitar propostas de renegociação de dívida apenas se o credor reduzir juros e não parcelar as compras em muitas vezes.
http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/noticia/2014/11/credito-esconde-armadilhas-diz-pesquisa-com-clientes-bancarios.html