Por Silvio Kanner
No último dia 27 de fevereiro de 2015, todo o movimento Sindical Bancário, incluindo as duas confederações, os sindicatos independentes e os setores de oposição foram às ruas defender a Caixa Econômica Federal contra os ataques do Governo. O Governo, já dito e declarado pela própria “presidenta”, pretende abrir o capital da Caixa, isto é, negociar ações da empresa na Bolsa de Valores. Atualmente, a CAIXA é uma empresa pública 100% estatal, não possui acionistas privados e, por tanto, seus lucros são integralmente na união.
Está claro que a medida é uma exigência do mercado financeiro e que sua implementação está diretamente relacionada com os problemas levantados pela “Folha” em matéria veiculada no dia 13.08.2014, quanto aos atrasos dos repasses do Tesouro Nacional (TN) para o Banco, previstos como obrigatoriedades contratuais do executivo para fazer face aos desembolsos de programas sociais – a CAIXA tem suportado esses desembolsos sozinha, e isso pode gerar problemas de Capital na empresa.
Gostaria de chamar atenção nesse texto para dois elementos desse processo. Faz muito tempo, na verdade não me recordo quando ocorreu pela última vez, que todos os setores do movimento sindical bancário se unificaram em torno de uma bandeira de luta contra o governo – outro elemento é a flagrante contradição da confederação oficial do partido do governo, a CONTRAF, filiada à CUT.
A falta de unidade no movimento bancário brasileiro é flagrante. Em todas as medidas recentes que afetaram diretamente os bancários brasileiros, a CONTRAF prejudicou a unidade, seja defendendo diretamente de forma aberta a posição do governo (vide superávit da PREVI, repactuação de planos de previdência, reposição de perdas Salariais etc.) ou defendeu a posição do governo de forma velada.
Desta vez, dado o prejuízo para o Brasil e para sua base principalmente, refiro-me aos empregados da CAIXA, a CONTRAF não conseguiu deixar de apresentar uma posição clara contra o governo, e nisso reside sua contradição. Na verdade, falo de contradição para não falar palavra pior. É fartamente sabido que a CONTRAF trabalhou ativamente para a eleição da atual “presidenta”, fez ato contra a autonomia do Banco Central, para desgastar candidatos adversários, propagou que o objetivo dos adversários da “presidenta” era entregar o comando da economia para o mercado financeiro e, como sempre, alertou os eleitores bancários e não bancários contra a voracidade privatizante dos adversários, principalmente do candidato tucano no segundo turno.
Num caso bastante peculiar, e-mails circularam na CAIXA, à época do segundo turno das eleições, sobre um possível plano do candidato adversário da “presidenta” visando a Privatização dos Bancos “Estatais”. Parece que resta um gosto amargo na boca daqueles que defenderam tão arduamente a reeleição – pediram votos contra a privatização para no fim, ajudar um projeto privatizante e dirigido pelo mercado financeiro.
A CONTRAF é bem vinda à luta! Mas para que os empregados da Caixa possam confiar em sua disposição de luta e em suas palavras, é preciso ainda uma resposta: os dirigentes de centenas de sindicatos, federações e confederações que militaram pela reeleição foram igualmente enganados? Ou igualmente enganadores?
Façam suas apostas!
Bancário, presidente da Associação dos Empregados do Banco da Amazônia – AEBA