Concessão de crédito é afetada por recessão e juros altos, acrescentou.
Solvência do sistema bancário segue em patamar elevado, informou o BC.
Alexandro Martello
Do G1, em Brasília
A rentabilidade do sistema bancário aumentou no segundo semestre do ano passado, influenciada por "resultados positivos" dos bancos privados, com destaque para ajustes [para cima] nas taxas de juros de empréstimos, informou o Banco Central nesta quinta-feira (7) por meio do relatório de estabilidade financeira.
No ano passado, houve um aumento de 14,1 pontos percentuais na taxa de juros dos bancos para pessoas físicas com recursos livres (tirando crédito habitacional, rural e do BNDES), para 63,7% ao ano em dezembro de 2015.Esse foi o maior aumento anual da série histórica revisada do Banco Central, ou seja, dos últimos quatro anos.Com isso, os juros bancários subiram mais do que cinco vezes o aumento da taxa básica da economia, fixada pelo BC.
Segundo o BC, o aumento da da alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) das instituições financeiras proporcionou "ganhos contábeis" com ativação de créditos tributários. "Em contrapartida, os bancos aumentaram suas provisões, preparando-se para um cenário adverso, com perspectiva de baixo crescimento das concessões e de aumento da
inadimplência", acrescentou a autoridade monetária.
O BC já havia revelado que ocrédito bancário registrou, em 2015, a desaceleração pelo quinto ano consecutivo e, também, o menor crescimento anual já registrado.Nesta quinta-feira, no relatório de estabilidade financeira, explicou que o cenário de retração econômica, juros elevados, piora das condições de emprego e redução no nível de confiança dos consumidores e dos empresários começou a se refletir de "maneira mais pronunciada" nos
indicadores de crédito.
"Para fazer frente a esse cenário, os bancos vêm preservando a cautela na concessão de
crédito, renegociando e restruturando as dívidas dos tomadores e, no caso dos bancos privados, aumentando, de modo significativo, a cobertura de provisões [dinheiro separado para caso de calote] para a inadimplência, concomitante à ativação de créditos tributários durante o semestre", acrescentou a autoridade monetária.
Expectativa para 2016
Para este ano, ainda de acordo com análise do Banco Central, a perspectiva de baixo crescimento das concessões (de crédito) continuará a reduzir a participação do crédito na formação do resultado dos bancos.
"Assim, segue a tendência de maior contribuição das receitas de serviços, seguros e cartões na composição do lucro líquido. Além disso, ganhos com eficiência tendem a ser menores, uma vez que esforços nesse sentido já vêm sendo empreendidos há um bom tempo, e há esgotamento nesse resultado", acrescentou o BC.
Segundo a instituição, a inadimplência mais elevada implicará, porém, em maiores despesas com provisões (de recursos para fazer frente às perdas), acarretando "queda das margens líquidas [lucro] de intermediação e crédito, pressionando a rentabilidade do sistema, especialmente nos bancos públicos, por carregarem em seus portfólios maior proporção de linhas de crédito de menor margem".
Capacidade de pagamento
De acordo com a instituição, a solvência (capacidade de pagamento de dívidas) do sistema bancário segue em "patamar elevado" no segundo semestre de 2015.
"Os índices de capital, tanto dos bancos públicos quanto dos privados, permaneceram em níveis superiores aos dos requerimentos regulatórios, o que, associado à avaliação da Razão de Alavancagem [razão entre o capital de melhor qualidade e total de exposição a risco da instituição], confirmam a situação confortável de solvência do sistema", avaliou o BC.
A autoridade monetária informou ainda que, em simulações de situações de estresse (piora nos indicadores econômicos), o sistema bancário brasileiro apresentou "adequada capacidade de suportar tanto os efeitos de choques decorrentes de cenários macroeconômicos adversos – por seis trimestres consecutivos.
Tabmém apresentou capacidade de suportar, informou o BC, mudanças abruptas nas taxas de juros e de câmbio, na inadimplência, ou quedas generalizadas dos preços dos imóveis residenciais, "muito embora os efeitos não sejam homogêneos para todas as instituições, e algumas apresentem desenquadramento em algum requerimento e/ou restrições na distribuição de lucros".
Lava Jato
O Banco Central informou ainda que seguem como "fatores de atenção contínua" os efeitos nas instituições do sistema financeiro nacional decorrentes do aumento do risco de crédito das empresas investigadas na operação Lava Jato, "bem como os setores e respectivas cadeias produtivas mais vulneráveis ao cenário econômico".
http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/04/mesmo-emprestando-menos-rentabilidade-bancaria-avanca-diz-bc.html