Quinta-feira, 19/01/2017, às 11:56, por Thais Herédia
A queda da inflação está liderando a renovação das expectativas positivas para a economia em 2017. Depois do tropeço que levamos numa grande pedra de pessimismo há cerca de três meses, a retomada do crescimento renova suas chances neste início do ano. O IPCA-15 de janeiro, divulgado há pouco pelo IBGE, ficou em 0,31% e foi o menor para o mês desde 1994, ano de lançamento do Plano Real. As previsões para o índice fechado do mês rondam 0,50%, mas ele pode surpreender porque o processo de queda de preços está generalizado.
Quanto mais baixa for a inflação corrente, mais espaço sobra para o Banco Central cortar os juros. Quanto mais os juros caírem, mais alívio para o crédito e para as dívidas. O ciclo que pode estar nascendo agora é mais forte e consistente do que o que se viu em meados de 2016 quando a confiança deu saltos. As expectativas que surgiram com a chegada do governo de Michel Temer não resistiram aos resultados frustrantes da atividade econômica no segundo semestre.
Quem provocou a curva radical que virou o país da trilha escura para a direção da luz no fim do túnel foi o resultado do IPCA em 2016: 6,29%, abaixo do esperado e dentro do limite de tolerância do sistema de metas para inflação. A surpresa gerou outra surpresa que foi a redução mais intensa da taxa de juros há duas semanas, de 0,75 ponto percentual, para 13%. Lá de Davos, onde está para a conferência do Fórum Econômico Mundial, o presidente do Banco Central prometeu repetir a dose em fevereiro.
Apesar de ser bom saber disso, os economistas não estão convencidos de que a assertividade de Ilan Goldfajn é saudável. Não é comum um presidente de BC antecipar com tanta firmeza uma decisão que só vai acontecer daqui a um mês, num ambiente de alta volatilidade, onde tudo está mudando muito rápido. Mas agora já foi, Ilan já disse e se foi um deslize, terá que se explicar lá na frente se mudar de ideia.
A boa notícia é que dificilmente ele mudará e o IPCA-15 corrobora essa previsão. Mesmo que a gente ainda conviva com números negativos sobre a atividade econômica – e eles virão – os bons resultados da inflação nos forçam a olhar cada vez mais para frente e não ficar com medo do retrovisor. Os juros em um dígito vão ganhando mais espaço nas estimativas para o ano e isto provoca uma calibragem sequencial dos outros indicadores da economia que vão responder à política monetária.
Na Suíça, onde encontra os maiores líderes públicos e corporativos do mundo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é o cara dos aplausos. Parece que os planos para o Brasil estão ganhando apoio reforçado dos investidores estrangeiros e a porta de entrada para o capital que pode financiar a recuperação da economia se alarga. O plano de concessões e privatizações tem tudo para atrair muito dinheiro e deverá ser a fonte mais sustentável de financiamento da atividade a partir deste ano.
Mas, contudo, todavia, porém, sem querer estragar a festa, é sempre bom lembrar que os desafios e as pedras que insistem em nos atrasar são grandes. Na verdade, ninguém sabe ao certo os efeitos que dois anos seguidos de profunda recessão vão causar na economia. Como o próprio ministro Meirelles lembrou, o desemprego vai continuar crescendo este ano, talvez num ritmo menor, mas o indicador vai aumentar antes de baixar.
O artigo da jornalista Cida Damasco no Estadão desta quinta-feira (19) traz uma leitura interessante do que pode acontecer no mercado de trabalho. Em “Esse tal desalento”, a jornalista fala sobre os milhões de brasileiros que desistiram de procurar um emprego porque perderam a esperança de encontra-lo. Cida Damasco ressalva que se a onda de otimismo se instalar, ao perceber que as coisas estão melhorando muita gente pode resolver sair de casa em busca de uma vaga. Este movimento pode gerar alta da taxa de desemprego que considera “desempregado” aquele que está ativamente procurando um posto de trabalho.
Se isto acontecer, o aumento da taxa de desocupação não será exatamente o reflexo de novas demissões e sim a entrada de mais pessoas já desocupadas na estatística. Se do outro lado da moeda os empregadores sentirem a mesma esperança de que a recuperação é para valer, isto pode ajudar na recomposição do mercado de trabalho. Ainda não há evidências de que a renovação do otimismo vá se reverter em contratações, mas este é o movimento esperado para o ciclo positivo.
Por fim, mas não menos importante, o maior risco que o país enfrenta hoje continua lá prontinho para atacar: a Lava Jato e seus efeitos sobre a governabilidade. Fevereiro está quase aí e com ele chegarão as dezenas de depoimentos com a “delação do fim do mundo”. Quem vai ficar de pé e seguir mandando alguma coisa é a pergunta que não vai calar.
http://g1.globo.com/economia/blog/thais-heredia/post/inflacao-em-queda-renova-esperancas.html