*Por Silvio Kanner
A sociedade amazônica talvez não saiba, mas o seu Banco, o Banco da Amazônia, está passando por uma transformação de grande envergadura, que deve alterar a forma das relações do Banco com todos os demais atores econômicos e não econômicos da região. Em poucos meses nada mais em termos de crédito será processado ou decidido nas agências, tudo será feito em novas áreas que tem sido chamadas de CENTRAIS DE ANÁLISE. Um modelo similar e por que não dizer diretamente copiado do Banco do Nordeste do Brasil – BNB. Porém não haverá centrais em todos as atuais Superintendências, algumas delas, de grande relevância social, econômica e política simplesmente foram excluídas do projeto das centrais, como é o caso de Manaus – AM e Santarém. Parece que quanto mais tem cara de Amazônia, mais é objeto de discriminação institucional.
A questão de saber qual é o melhor modelo de organização de uma empresa não é, em geral, uma questão de fácil solução. Ainda assim, ao longo desses 75 anos de existência o Banco da Amazônia sempre teve a coragem por que não dizer a ousadia de trabalhar com um modelo próprio.
A implantação das “Centrais de Análise”, por tanto, pode significar uma ruptura com essa lógica de trabalhar com modelo próprio. Desde o presidente Abdias Júnior percebe-se já que o Banco vem tentando se aproximar dos modelos organizacionais dos congêneres, mais no que respeita aos deveres do que aos direitos dos empregados, vale dizer. Percebe-se que ao menos três exemplos servem de ilustração: a criação das gerências de seguimento, a instituição da NP 118 e o novo modelo de normativos fragmentados. Todos “CTRL C, CTRL V” do Banco do Brasil. Isso sem falar a malfadada Lateralidade, que ainda hoje vigora no Mato Grosso e Tocantins.
As CENTRAIS DE ANÁLISE representam uma radicalização da lógica do “copia e cola”. A rigor não há nada de criativo ou original nesse projeto, a Diretoria apenas está fazendo “o que todos fazem” principalmente o Banco do Nordeste – BNB.
Os riscos de se copiar um modelo de organização, como a Diretoria do Banco esta fazendo agora, no entanto, são enormes.
Primeiro porque a Amazônia não é o Nordeste, em certo sentido é o oposto. Nossa malha viária, bem como a estrutura logística como um todo é demasiado precária se comparada com o Nordeste do Brasil. Segundo por que nosso nível de risco devido aos problemas de estrutura fundiária, principalmente com referência a ausência/falsidade de documentos é extremamente maior e em seguida por que nossa legislação ambiental é muito mais complexa e exige muito mais atenção. Esses argumentos, por si, já deveriam ser suficientes para a manutenção da estrutura anterior e para buscar seu aprimoramento.
Em seguida entendemos que não há razões para a mudança de modelo. Ao longo dos últimos dez anos o banco problemas com o nível de aplicações do FNO, esses problemas se iniciaram com a recessão em 2016, e a nosso ver a precária estrutura das agências também contribuiu para isso, bem como a incapacidade da atual de diretoria para dialogar com os engenheiros. Vejam por exemplo que esse modelo de Supervisão de Engenheira tem todos os elementos de uma decisão de amadores. Mantida a situação de precariedade atual das agências e a forma de tratamento dos empregados não há como fazer um modelo funcionar. Modelos não fazem milagres. Pessoas fazem.
Nossa missão, a missão do Banco da Amazônia, a mais importante, é o desenvolvimento regional, não somos um banco qualquer, somos um banco com compromisso publico e social, somos uma fonte de referencia e informação para a Amazônia, temos um tipo de atendimento e de estrutura de decisão apropriada e conectada com as realidades locais. A dificuldade de conferir homogeneidade aos procedimentos deve ser enfrentada com treinamento e acompanhamento gerencial, o modelo de centrais de crédito no máximo o que vai permitir é o distanciamento dos centros de decisão da realidade dos clientes. No caso do Banco da Amazônia isso não pode resultar em algo bom.
Não se trata de pessimismo, ou de uma “torcida contra”, trata-se da experiência real que origina um tipo de conhecimento que desautoriza modelos de prateleira. A questão de saber qual é o melhor modelo organizacional para o Banco da Amazônia pode então ser posta de forma inversa, passando-se à pergunta sobre qual NÃO é o melhor modelo e para esta questão temos uma reposta clara: NÃO PODE SER UMA CÓPIA!
É claro que a Diretoria atual jamais irá concordar que “seu” projeto de centrais vai fazer água. Mas, como sempre ocorre, não serão eles os que mais irão sofrer, em todo caso. Como sempre ocorre os empregados e os clientes serão os mais afetados, dentre estes últimos os menores.
Silvio Kanner é Engenheiro Agrônomo, Mestre em Desenvolvimento Rural e Doutorando em Ciências Sociais – UFPA, é empregado do Banco da Amazônia há 15 anos e, atualmente, Presidente da Associaçãodos Empregados do BASA – AEBA.