Os bancos compõem um dos setores que hoje mais lucra no Brasil, sendo beneficiados por uma política de juros altíssimos, pelo maior spread do mundo e por tarifas e taxas que engordam em bilhões os cofres dos banqueiros. Mas não é só isso que garante a alta lucratividade do setor. Na outra ponta do enriquecimento das instituições financeiras no país, constata-se um quadro de brutal exploração dos trabalhadores e de constantes medidas adotadas pelas empresas para “reduzir custos”, de demissões e terceirizações à imposição de metas e cortes de direitos trabalhistas.
Com as fusões e a automação do setor bancário, as demissões se tornaram constantes, e para aqueles que permanecem nos bancos, o ritmo e a jornada de trabalho são intensificados. O medo da demissão se torna uma ferramenta para assegurar a exploração do trabalhador e a rotatividade é enorme. A lógica que impera é a demissão de funcionários com algum tempo de casa e a contratação de outros, com salários bem inferiores, para executar as mesmas funções. A fusão entre bancos, característica do sistema capitalista, também tem gerado situações onde a inexistência de critérios objetivos para definir os salários faz com que muitos realizem as mesmas funções com salários absolutamente diferenciados.
Um dos maiores proble mas presentes na situação laboral da categoria, por exemplo, é o assédio moral, prática institucionalizada no setor. O que era sazonal, esporádico e pontual, caracterizado como desvios de conduta de determinados gestores, tornou-se prática corrente de toda empresa bancária. Não há bancário que não tenha sofrido ou presenciado um colega que tenha sido vítima de assédio moral. São humilhações e pressões de todo tipo para que os trabalhadores cumpram metas inatingíveis. A imposição de metas nas agências e departamentos é, aliás, uma das principais reclamações dos bancários. Praticamente todos os bancos adotam uma cobrança por metas, constrangendo seus funcionários “vender” produtos bancários. Com medo de perder o emprego, há trabalhadores que executam essa função até fora do horário de expediente. Do contrário, não conseguem atingir as metas impostas pelo banco.
Esse modelo de gestão tem duas conseqüências imediatas: o aum ento do lucro dos bancos e a destruição da saúde física, emocional e psicológica de milhares de trabalhadores. Enquanto os lucros crescem, toda uma geração de trabalhadores adoece vítimas da depressão, estresse, alcoolismo, LER/Dort. É tão grave a situação que os bancários hoje se autodenominam uma geração tarja preta!
Vale lembrar que a cobrança de metas prejudica também os clientes, forçados a comprar produtos que raras vezes queriam, criados para atender às próprias necessidades do sistema financeiro.
Outro problema enfrentado são as terceirizações. Hoje o sistema bancário privado não atua na perspectiva de crescimento com criação de novos empregos, desenvolvendo a economia brasileira. As fraudes nos contratos de trabalho são inúmeras, gerando inclusive uma divisão entre os trabalhadores. De um lado, em número cada vez menor, aqueles que tem suas garantias asseguradas pela Convenção Coletiva Nacional e pela legisla ção; de outro lado, os terceirizados, estagiários e cooperados, que trabalham por salários menores e sem qualquer garantia. A divisão imposta pelos patrões alimenta o medo, a submissão e a desorganização, e é um poderoso instrumento de concentração de renda. Os salários e benefícios subtraídos dos trabalhadores também aumentam os lucros dos banqueiros e, com a sonegação de impostos, afetam diretamente os serviços públicos do conjunto da população.
Há bancos, por exemplo, onde a compensação de cheques é terceirizada. Em outros, para reduzir funcionários, as instituições há tempos deixaram de conferir os cheques de até determinado valor, sujeitando o sistema a fraudes. Como não existe conferência, os riscos de serem pagos cheques até sem assinatura ou com assinaturas falsas é grande.
Trata-se de um quadro gravíssimo, que se repete inclusive nos bancos públicos, que também vem sendo geridos sob a lógica das institui ões privadas. Da porta giratória para fora, instituições como o BNDES patrocinam fusões e centralizações de capitais, resultando na redução de direitos dos trabalhadores. Na gestão interna, a política é a mesma. O Banco do Brasil, por exemplo, acaba de divulgar o maior lucro da sua história: R$ 11,7 bilhões graças à imposição de metas e intensificação do trabalho. Na Caixa Econômica Federal, a pressão por resultados levou à precarização do atendimento, com a criação de mais correspondentes bancários, uma forma de terceirização barata do trabalho.
Os correspondentes bancários, por sinal, são a mais recente tática empregada pelo capital para se contrapor aos movimentos grevistas empreendidos pela categoria bancária. Por trás do discurso de levar o atendimento bancário para regiões distantes, os bancos se associam a redes de varejo onde a precarização do trabalho é enorme. Segundo a Febraban, enquanto a quantidade de correspo ndentes cresceu de 36 mil para 150 mil entre 2003 a 2009 – um aumento de 317%, a contratação de bancários subiu apenas 15%. Hoje há quase 8 vezes mais correspondentes bancários do que o número de agências bancárias. Eles custam muito menos para as empresas, pois seus trabalhadores não são abrangidos pelas convenções coletivas, e se tornaram uma peça central para o ganho de escala dos bancos.
A realidade, senhoras e senhores Deputados, é que trabalhar hoje em uma instituição bancária significa se submeter a condições de trabalho inaceitáveis. Com a crise na Europa, o Brasil passou a ser a menina dos olhos de bancos estrangeiros, cujas agências no Brasil receberam a missão de alcançar resultados para remunerar a contento seus acionistas. Em nosso país, contam com uma política econômica absolutamente favorável à sua lucratividade, com altas taxas de juros, o pagamento religioso de uma dívida pública imoral, um baixíssimo salário mí nimo e regras extremamente favoráveis ao capital financeiro. É uma agenda que beneficia os banqueiros, grandes empresários, rentistas e especuladores e, na outra ponta, explora os trabalhadores.
O PSOL, historicamente, é crítico desta política, e luta para que as regras de funcionamento da economia nacional estejam a serviço dos trabalhadores e do conjunto da população. Manifestamos aqui então toda a nossa solidariedade à luta dos trabalhadores e sindicados da categoria bancária. O Brasil e seus governantes não podem mais fechar os olhos para esta situação, que torna-se ainda mais ultrajante a cada vez que os bancos divulgam seus balanços milionários.
Muito obrigado.
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL/SP