Incrível o novo capitalismo que rapina o mundo: bancos faturam com altos juros, por anos, para manter a Grécia e outros países numa sangria controlada, como parasitas que não querem matar o hospedeiro, e quando vem o risco do calote, obrigam os governos a adotar medidas mais drásticas e impopulares para manter a derrama. Muitos já faturaram tanto, que se levassem um calote, não perderiam nada.
Lá como aqui, a dívida governamental é um maná para os bancos e seus executivos. E tome superávit primário e pagamento pontual de juros escorchantes que levam metade dos impostos pagos. Até executivos do Banco do Brasil tentam irregularmente triplicar o teto das suas aposentadorias. Segue editorial da Carta Capital de hoje, sobre o assunto:
"EMPREGOS DERRETEM. NAÇÕES SE ESGOELAM. BANQUEIROS FATURAM
O executivo-chefe do Citigroup, Vikram Pandit receberá este ano US$ 80 milhões relativos a pagamentos não salariais, além de bônus e incentivos, num volume que pode superar os US$ 200 milhões. A informação é da agência Bloomberg. O Citi foi o banco símbolo da crise engendrada pela supremacia das finanças desreguladas que esganou a economia, o emprego e a democracia em todo o planeta, como avultam os exemplos da Grécia, Espanha, Portugal etc. Foi, ademais, a instituição financeira que recebeu o maior balão de oxigênio do Estado norte- americano.
Em novembro de 2008, no auge da crise, o governo dos EUA assumiu a responsabilidade de resgatar a montanha desordenada de créditos podres e ações esfareladas que fizeram do Citi um emblema da maior crise do capitalismo desde 1929. A canalização de dinheiro dos contribuintes incluiu US$ 20 bilhões de injeção de capital para mitigar os rombos de caixa do Citi; US$ 25 bilhões em programa de ajuda oficial; garantias do Estado para US$ 306 bilhões de ativos problemáticos (créditos podres ou em processo de putrefação acelerado). Em bom português: o Citi foi estatizado, embora mantido nas mãos do mercado –essas coisas existem. A título de prestação de contas à opinião pública, que naturalmente não digeriu bem o amparo a uma das alavancas da crise que ceifou 30 milhões de empregos no mundo, convencionou-se que o salário do presidente do Citi ficaria restrito a simbólico US$ 1 por ano. Agora se vê que os chamados ‘restos a pagar' – que podem chegar a US$ 200 milhões'- suportavam tal demagogia.
Vê-se, ademais, que, três anos depois da hecatombe, as medidas destinadas a devolver a pasta de dente ao tubo da regulação fracassaram. E a tal ponto, que, um executivo-chefe como Pandit, dá-se ao luxo de conciliar ganhos milionários com uma queda de 87% no valor das ações do Citi desde a sua posse, em 2007. Pandit não é um caso isolado.
Um típico dirigente de uma grande empresa dos EUA recebeu US$ 9 milhões no ano passado, contra um valor equivalente a um quarto disso em 2009. Enquanto isso, os salários dos trabalhadores em maio último, descontada a inflação, estavam 1,6% abaixo do seu valor em igual mês do ano passado. O desemprego é de 9% e quase 45 milhões de americanos recebem atualmente cupons de alimentação porque não ganham sequer para sustentar o próprio metabolismo."